Coma o que te faz feliz

Meu pai cozinha muito bem. De origem italiana, comida pra ele tem que ser em abundância, com longo tempo de preparo – regada a cerveja no processo – e com carne. Se não tiver carne pra ele é lanche. E preparar uma refeição é sua maneira de demonstrar amor. Gosta de cozinhar em casa, na sua e na de amigos, cercado de pessoas queridas. Sempre adiando o fim da preparação, porque o preparo é que é o deleite, a sagração. A casa se enchendo de cheiros, a cozinha esquentando. E na hora de servir, ele próprio, muitas vezes, não come. Seu alimento é o afeto. Mas observa – e delicia-se e alimenta-se em observar – as primeiras bocadas dos convidados; filhas, amigos. E não o faz em silêncio, mas com expressões visuais e sonoras de prazer, pedindo comprovação verbal do gozo. Não te deixa sair da mesa sem repetir, e da casa, sem levar uma marmita pra mais tarde. Uma mistura de Minas, com Itália e com ele próprio. É uma tradição, mas também uma singularidade sua.

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Cada um tem o vizinho chato que merece

“Give a man a reputation as an early riser and he can sleep ’til noon*.”
(Mark Twain)
*
Um homem com a reputação de cedo madrugar
pode dormir até o meio-dia

Dizem que se você não tem um vizinho chato, o vizinho chato é você. E eu não quero ser a vizinha chata, mas essa é a enésima vez que ouço esse barulho no teto. Como se tivesse uma moeda ou bolinha rolando no chão. Sempre de manhã. Será que é um cachorro ou um gato brincando com uma bola de gude?, o pensamento me ocorre quando sou acordada, logo depois da impaciência se instalar. Mas aí para. E eu volto a dormir. Deixo pra lá. Hoje, no entanto, resolvi agir. São 8h44 quando chamo na portaria do prédio; há 400 apartamentos aqui e um clima de apart hotel. Ninguém se conhece. A Tatiane disse que iria mandar alguém lá pra ver o que era. Deito novamente, e o barulho para. Sinto um alívio que começa a virar sonho. Delírio.

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