Em janeiro de 2017, passei uma manhã na escola pública primária Natwar Nagar a convite da amiga Anusha Manjani. Anusha é nativa de Bombay, hoje Mumbai, a capital do estado mais rico da Índia, Maharashtra. Trata-se do maior centro urbano e financeiro do país, cuja área metropolitana, estima-se, abriga quase 25 milhões de pessoas. Dentro dessa malha urbana infinita estão milhares de favelas que, mais uma vez segundo estimativas, são lar de pelo menos 10 milhões de pessoas concentradas em áreas densamente povoadas.
Todas as fotos são de Maria Bitarello e foram feitas na escola pública primária Natwar Nagar, em Bombay, na Índia, em janeiro de 2017, com uma Canon AE-1 e filme Retro Chrome 320 positivo e vencido.
Fui ver “Homem com H”, filme de Esmir Filho sobre o Ney Matogrosso que está nos cinemas. Um dos pontos centrais da obra é a relação conflituosa que Ney tem uma boa parte da vida com o pai, mesmo tendo saído (sido expulso) de casa novinho. A saída ou expulsão de casa é um tema de reflexão que me persegue. Tenho grande interesse em tentar entender como esse rito de passagem nos afeta e transforma. Quem veio parar em São Paulo sem ser daqui convive, imagino, assim como eu, com uma maioria de forasteiros. Gente que escolheu esse lugar. Suspeito que essa escolha, para onde vamos?, está entre as mais importantes que fazemos em nossas vidas. Mais que isso, confio que não é à toa que tanta gente vem parar em certos lugares, que não são só dinheiro e trabalho o chamariz. Têm cidades vocacionadas para receber uma fauna tão diversa de seres humanos. São Paulo, certamente. E é o encontro de uma pessoa com uma cidade que faz nascer esse novo ser que precisa nascer. Que permite que a vida aconteça.