‘A gente está sempre saindo de casa’

Fui ver “Homem com H”, filme de Esmir Filho sobre o Ney Matogrosso que está nos cinemas. Um dos pontos centrais da obra é a relação conflituosa que Ney tem uma boa parte da vida com o pai, mesmo tendo saído (sido expulso) de casa novinho. A saída ou expulsão de casa é um tema de reflexão que me persegue. Tenho grande interesse em tentar entender como esse rito de passagem nos afeta e transforma. Quem veio parar em São Paulo sem ser daqui convive, imagino, assim como eu, com uma maioria de forasteiros. Gente que escolheu esse lugar. Suspeito que essa escolha, para onde vamos?, está entre as mais importantes que fazemos em nossas vidas. Mais que isso, confio que não é à toa que tanta gente vem parar em certos lugares, que não são só dinheiro e trabalho o chamariz. Têm cidades vocacionadas para receber uma fauna tão diversa de seres humanos. São Paulo, certamente. E é o encontro de uma pessoa com uma cidade que faz nascer esse novo ser que precisa nascer. Que permite que a vida aconteça. 

Texto completo na coluna Gaveta Azul no site da Revista Philos.

Acima, foto 120mm em dupla exposição do ato organizado pelo Teatro Oficina em defesa do Parque do Rio Bixiga, na Avenida Paulista, em agosto de 2018. Aqui você vê a série de fotos completa, “A alegria é subversiva”, na Revista Philos. Foto: Maria Bitarello

“A bondade de estranhos”

Basílica de Santiago de Compostela, Espanha

[Série fotográfica marca estreia da coluna Gaveta Azul, na Revista Philos]

Em 2013, caminhei 220 km em 10 dias, percorrendo a distância que separa Braga, na região do Minho, no norte de Portugal, de Santiago de Compostela, na Galícia, no noroeste da Espanha. Eu tinha 30 anos. Segui uma das múltiplas rotas possíveis para Santiago tomando estradas de chão em zonas rurais, trilhas pedregosas sobre a montanha, íngremes declives pavimentados, beiras de estradas asfaltadas em periferias urbanas e, por fim, os paralelepípedos milenares que conduzem até a Basílica de Santiago de Compostela. 

Texto completo e série fotográfica no site da Revista Philos.

Iya Shango

Todo tempo é susceptível de virar um tempo sagrado;
a todo momento, a duração pode ser transmudada em eternidade.

In illo tempore, nos tempos míticos, tudo era possível.
Mircea Eliade

A repetição do cotidiano, massacrante a princípio, sublima, pelo cansaço, seus agentes. Gestos e saudações que repetem, ao infinito, o ato criador, a origem da aldeia, da tribo, do mundo. Aldeia: centro do mundo. No ato de cozinhar, de cantar, de reverenciar está sempre, por detrás, o gesto original e criador: o gesto mesmo do divino, que se atualiza no presente através do homem, trazendo o tempo sagrado, o tempo do mito para o tempo profano a qualquer momento, sem aviso, sem censura. Não é só no rito que o tempo sagrado se regenera, mas todos os dias, de novo, e de novo, e de novo.

A série integral saiu na Revista Philos (aqui).
(Rio de Janeiro, Novembro 2020, quarentena de Covid19)